Resolvi que quero voltar a ter as responsabilidades e as ideias de uma criança de cinco anos, no máximo.
Quero acreditar que o mundo é justo. E que todas as pessoas são honestas, bonitas e boas.
Quero acreditar que tudo é possível.
Quero que as complexidades da vida passem despercebidas por mim, e quero ficar encantado com as pequenas maravilhas deste mundo.
Quero voltar a me deitar em lençóis brancos bordados com patinhos e foguetes e a comer bolachinhas na cama encondidinho.
Quero de volta uma vida simples e sem complicações.
Quero correr descalço pela grama molhada atrás da minha sombra no muro, impinar pipa no sitio e brincar no balançe da praia deserta pela manhã.
Quero ficar horas pensando no que é que irie pensar hoje em dia...
Estou cansado dos dias cheios de computadores que falham, montanhas de papelada, notícias deprimentes, contas a pagar, fofocas, doenças, e necessidade de atribuir um valor monetário a tudo o que existe.
Não quero mais ter que inventar jeitos para fazer o dinheiro chegar até ao dia do próximo ordenado.
Não quero mais ser obrigado a dizer adeus a pessoas queridas, e, com elas, a uma parte da minha vida.
Quero ter certeza de que há uma grande estrela no céu, e que é por isso que tudo está direitinho neste mundo.
Quero viajar ao redor dele, no barquinho de papel, que vou navegar numa poça deixada pela chuva.
Quero atirar pedrinhas à água e ter tempo para olhar as ondas que elas formam.
Quero voltar a achar que as moedas de chocolate são melhores do que as de verdade, porque podemos comê-las e ficar com a cara toda lambuzada.
Quero ficar feliz quando conseguir segurar a laranja que caiu da arvore que parecia tão alta.
Quero poder passar as tardes de verão na sombra de uma árvore, construindo castelos de areia e dividindo-o com meus amigos.
Quero voltar a achar que os chicletes e os sucos são as melhores coisas da vida. Junto com os desenhos é claro.
Quero que as maiores competições em que eu tenha de entrar sejam um jogo de computador ou construção de lego.
Eu quero voltar ao tempo em que tudo o que eu sabia era o nome das cores do arco-íris, a tabuada, as cantigas de roda, e isso não me incomodava nadinha, porque eu não fazia a menor ideia de quantas coisas eu ainda não sabia...
Quero voltar ao tempo em que se é feliz, simplesmente porque se vive na bendita ignorância da existência de coisas que podem nos preocupar, aborrecer e nos tornar infelizes.
Quero voltar a poder brincar de pega-pega e gato mia... se sentar ao fim da tarde no quintal e brincar com os últimos raios de sol e ficar à espera, no verão, pela senhora dos sorvetes ao fim da rua.
Eu quero acreditar no poder dos sorrisos, dos abraços, dos agrados, das palavras gentis, da verdade, da justiça, da paz, dos sonhos, da imaginação, dos castelos no ar e na areia.
E acima de tudo, quero é estar convencido de que tudo isso vale muito mais do que o dinheiro!
Por isso, tomem aqui as chaves do carro, o seguro do mesmo, a lista do supermercado, as receitas do médico, o talão de cheques, os cartões de crédito, os cartões de identificação, o pacote de contas a pagar, a declaração de impostos, a declaração de bens, as passwords do meu computador e das contas no banco, e resolvam as coisas como quiserem.
A partir de hoje, isto é com vocês, porque eu ME DEMITO da vida de adulto!
Vou voltar a ser feliz, a ter sonhos de criança, a ver o mundo com os olhos inocentes de quem acredita no Papai Noel e na fada dos dentes, viver um sonho...
e acredito que vou ser capaz!