Na época que estava com a Jo, tínhamos uma brincadeira. Éramos os únicos no mundo que achavam isso engraçado. E fazíamos isso o tempo todo. Porque uma vez que se começa, é surpreendentemente difícil de parar.
Agora, terminamos, então quando o Nuno disse: "Depois do primeiro ano, ganhei um grande aumento." Apenas nos olhamos.
Aparentemente, eu e a Jo estamos ótimos. Mas a verdade é que tentar ser amigo da sua ex é muito mais difícil do que parece. Você não pode ser franco como costumava ser. Mas principalmente, nunca podem ficar sozinhos, juntos...
Estava combinando que domingo era o almoço na casa deles. E sábado a noite nos reuníamos para fazer a sobremesa. Com meu plano em mente, já fui duas horas e meia atrasado, para não correr o risco de ter que ficar sozinho com ela. Mas assim que ela abriu a porta:
- Desculpe pelo atraso. Cadê o Nuno e a Cristina?
- Eles acabaram de ligar. Estão atarefados demais preparando o almoço de amanhã.
- O Thiago vem? (Thiago, seu atual namorado /ficante /peguete/ que seja)
- Não, ele foi a um show.
- Então - alguns minutos calados e falamos juntos- Somos só nós dois. - o sorriso desagradável apareceu em nossos rostos. -
- Preparando tortas...
- Tortas. Coisas que amigos fazem juntos.
- Isso mesmo.
- Ótimo. Teremos oportunidade de mantermos a conversa em dia.
E as seguintes duas horas foram completamente mudas. Com apenas algumas explicações sobre tortas e o Egito Antigo, até que ela foi até a geladeira e pegou o recheio de noz e completo:
- A torta de noz é a demora mais. Por que não colocamos essa primeiro?
- Torta de noz? Por que estamos fazendo essa?
- É minha favorita.
- Você é alérgica.
- Eu sei, é que eu gosto de cheirar. É como comê-la com o nariz.
- Então estamos fazendo uma torta para o Thiago.
- Sim.
- Você poderia ter me dito que era para o Thiago.
- Achei que poderia chateá-lo.
- Me chatear? Espera um pouco. Você acha que eu tenho ciúmes dele?
- Eu não sei. É tão ridículo pensar nessa hipótese?
- Sim.
- Por quê?
- Porque ele tem 1000 anos de idade. A coisa que tenho ciumes do Thiago é quando imaginamos a nosso primeiro almoço de domingo, ele estava lá de verdade.
- Qual é!?
- A única coisa que eu tenho ciumes do Thiago é que ele sentou no banco da frente da arca de Noé. A única coisa que eu tenho ciumes do Thiago é que eu sou apenas um designer e ele descobriu o fogo. Como posso alcança-lo?
- Ele tem 41! Por que está forçando tanto?
- Eu não estou. Estou apenas zoando. É o que os amigos fazem.
- É maldoso.
- Por que podemos zoar o Miguel quando ele pega uma piranha, mas quando você dorme com o papai guardião da cripta, não posso tocar no assunto?
- Primeiro: Não estamos dormindo juntos. Estamos só saindo. Segundo: falei uma palavra a respeito do desfile de vadias que me fez assistir nos últimos meses? Uma delas que fez uma tatuagem em sua homenagem? E se somos tão bons amigos por que fazer uma torta para o Thiago é tão estranho?
- Se somos tão bons amigos, por que não me contou que era isso que estávamos fazendo?
- Olhe para nós. Não podemos ficar sozinhos juntos, podemos?
- Aparentemente, não.
- O que isso significa? Era para sermos amigos.
Ficamos uns minutos quietos, olhando um para o outro e então minha voz rompeu dizendo uma verdade que doía, ao menos em mim.
- Não somos amigos. Somos? Não de verdade. Evitamos um ao outro. Sorrimos educadamente. Somos duas pessoas que fingem ser amigos porque seria inconveniente caso não fizéssemos isso.
- Talvez devêssemos para de fingir.
- Talvez sim.
- Então o que fazemos agora?
- Suponho que amanha almoçaremos. E depois, é isso.
Concordamos com a cabeça, estávamos decididos que depois do almoço de domingo não iríamos mas nós ver e fingir sermos algo que não somos.
Amanheceu, era domingo. E logo cheguei a casa, ela abriu a porta olhou para a mim e acenou com a cabeça. Fiz o mesmo e entrei. Era estranha a sensação de perda, se como havíamos analisado ontem, nem tínhamos.
Sentamos para o nosso primeiro almoço de domingo juntos, como um grupo, e aparentemente nosso último. Então algo engraçado aconteceu. Enquanto Thiago falava, nós dois completamos juntos - É um zunido de morrer. - E nós olhamos de volta, sorrindo. Percebemos naquele momento, que éramos amigos. E que nossa amizade não iria morrer e nem iríamos desistir dela.
Amizade é um reflexo involuntário. Simplesmente acontece, você não pode evitar. Aquele primeiro almoço de domingo se tornou uma maravilhosa refeição com as quatro pessoas que mais considero nesse mundo e o Thiago. E vai se tornar uma tradição. Por isso daqui a alguns anos levarei meus filhos para almoçar com eles.