sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Os donos do tempo

No fim do ano passado, eu estava numa fase superocupado. Frilas, trabalho, trabalho de conclusão de curso do mestrado,  ginásio. Meio sem paciência, decidi diminuir o ritmo em alguma coisa. Escolhi meu hobby: o ginásio, que é às 8h15. Comecei a chegar atrasado, para aliviar meu dia. Beleza.

O treinador não chiou. Até meados do semestre, eu tinha sido um aluno aplicado. E, mesmo com os atrasos, estava longe de estourar meu limite de faltas. Mas eis que, um dia, no intervalo entre os exercícios, eu meus colegas estávamos conversando sobre… sono. Sei lá, por quê. Comentei que costumava dormir oito ou nove horas todos os dias. Terror. Censura. Pânico! Um deles disse: “Como assim, você dorme oito ou nove horas por dia? E ainda tem a cara-de-pau de dizer que está sem tempo?!”

É, ué. Sem tempo. Posso tomar café-da-manhã na frente do computador, se estiver enrolado. Mas prefiro sacrificar outras coisas – como a assiduidade ao ginásio – a diminuir meu sono.

Lembrei de um colega meu da ética. O dia-a-dia dele contava com duas atividades principais: ele fazia mestrado à noite e tinha uma bolsa. Pela bolsa, ele tinha que trabalhar quatro horas por dia… duas vezes por semana. Não é o que podemos chamar de um workaholic, convenhamos. Mas, mesmo assim, depois de alguns meses, ele desistiu da bolsa.

Eu: Como assim?
Ele: Eu não tinha tempo para estudar.
Eu: Mas sua bolsa não tomava nada do seu tempo!
Ele: Nada, não. Quatro horas por dia, duas vezes por semana.
Eu: Mas era do lado da sua casa… mas… mas…

Quis saber como ele administrava o tempo. Ele contou. O café da manhã leva mais de uma hora: afinal, ele gosta de tomar café com calma. O almoço, duas horas. A caminhada depois do almoço é sagrada. Quando ele se dava conta, já era hora da aula e ele não tinha estudado tudo o que queria.

Por outro lado, quando esse meu colega precisa estudar muito, ele dorme três horas por dia.

Ninguém me pediu nenhuma sugestão de como levar a vida e não encher a paciência dos outros, mas aí vai. Quando alguém disser que está sem tempo, acredite. Deixe a pessoa lá com o tempo dela! Porque os relógios podem discordar de mim o quanto quiserem. Mas, realmente, o tempo não é igual para todo mundo.