sábado, 28 de março de 2009

conversa muda

— Sabe, às vezes tenho a sensação de que, se você estivesse aqui, eu saberia exatamente o que você diria, com a tua voz meio rouca, sempre que eu te falasse qualquer agonia que aflige esse meu coração. E até posso imaginar o teu riso de cabelo bagunçado e aquele leve revirar de olhos que teimavas em tentar disfarçar. Em vão.

— É que, antes de qualquer coisa, sempre fomos como irmãos, menino, tu bem sabe. Como se fôssemos a mesma alma, em dois corações, em dois corpos. É imaginável que tu ainda sintas isso, embora isso me deixe um tanto triste, pois não gosto dessa saudade que deixa tua voz doce embargada, me dói. Tanto quanto teus problemas, que não mais me são direcionados com frequência. Na minha época, bonita, quando eu ainda estava aí, não só em espírito, tu recorrias a mim mais vezes. E eu sinto saudades disso. Das tuas loucuras, das tuas besteiras e de tudo aquilo que te fazia chorar também.

— É, pequena. Sei disso. E queria pedir desculpas pelo meu pouco caso, embora não me sinto tão nem-aí-pra-você como tu pensa. Depois de tantos anos de silêncios, era de se esperar que as palavras, as minhas, fossem sumindo aos poucos. Não justifica, eu sei, mas sinto-me injusto demais por te procurar sempre quando meu coração está em apuros ou quando algumas lágrimas teimosas rolam minha face. O que é estranho, pois quanto mais apertado está o meu coração, mais consigo ouvir a tua voz aqui dentro...

— Ah, bonitão. E tu ainda tens dúvida do porquê disso? Quantas e quantas vezes tu viestes me procurar para soltar algumas lamúrias desse mundo que te machuca? Teu subconsciente está acostumado com isso e, creio eu, seja uma forma tua de tentar aliviar, como antigamente, quando esquecíamos das horas e, assim, esquecíamos do mundo. É inevitável, não se culpe.

— Sinto saudades de ti. Por ora, é uma saudade gostosa, daquelas que me dava sempre que tu ias visitar tua família... Por ora, é uma saudade doentia, que quer arrancar o coração do meu peito e faz-me derramar rios e rios de lágrimas silenciosas...

— Não me olhes com essa cara de desculpas, amor. Não há motivos para isso. Sim, eu sei que não me agrada o fato de ser o motivo das lágrimas doloridas que vocês, de vez em quando, derramam, mas também não posso culpá-las por isso. Infelizmente, é o único fardo que tenho que carregar aqui, onde estou. Não há o que desculpar, bem como não há o que temer, lindo. A tua vida caminha para a felicidade e você precisa parar de arrumar empecilhos para dificultar teu sorriso, tão belo. Deixe de se preocupar, é tão simples...

— Viu? — sorri — Eu disse que sabia exatamente o que você iria me dizer...



Fui tentar parar de arrumar empecilhos. Pode ser q eu volte. pode ser que não.