Meu primeiro “tocador de música” foi uma vitrolinha vermelha. Em formato de maleta, possuía uma tampa que era também a caixa de som. Fechada dava para transportá-la do quarto para a sala, da sala para a cozinha. Um verdadeiro iPod da década de oitenta!
Nela eu ouvia meus disquinhos de histórias para crianças. Eram coloridos e pequenos. “Os Três Porquinhos”, “João e o Pé de Feijão”, o preferido era o da “Dona Baratinha”.
Porém, mais importante do que essas preciosidades da infância foram os discos que herdei de meu padrinho. Quando minha vó mudou de casa, no meio da arrumação, acabei ficando com as bolachas que meu tio tinha na adolescência. Peguei todas. Havia muita coisa de Jovem Guarda, um do Jorge Ben e o melhor de tudo: uma coleção de compactos dos Beatles da gravadora Apple. E com menos de dez anos de idade eu já conhecia “Don’t Let me Down”.
O mundo nunca mais foi o mesmo. Quis ser guitarrista, ganhei um violão e fui estudar música. Aprendi a tocar “O Pica Pau”, minha primeira canção. Eram três acordes. E tocava acompanhando o vinil do Erasmo, talvez como meu tio um dia fez.
Meu gosto foi ficando mais sofisticado com o tempo. Descobri Chico, Caetano, Jobim. Depois jazz, Miles, Cole Porter, George Benson. Mas hoje acordei com saudade daquele tempo.
Então fui buscar essas recordações simples e inocentes da época. Tirei-as do fundo do baú. E coloquei novamente no peito com vasto espaço para memórias imortais.