terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sobre o ir levando

parágrafo Começo este aqui com a face corada e as borboletas tresloucadas dentro de mim. Uma bola que se aloja na garganta, a vergonha vestindo cada milímetro da minha pele e, entretanto, um não se importar com as consequências, nem medi-las ou sequer pensar que. Talvez não tenha consequência nenhuma, talvez nada leve a nada e é exactamente isso que quero dizer. Não porque preciso, mas porque me faz bem. E se me faz bem, se tenho vontade desse escotismo, por que não me permitir fluir? Assim aglomero as letras que dançam soltas durante a semana, tento deixá-las fazendo sentindo e vou revelando, linha por linha, então.

parágrafo A censura bateu em minha porta e eu jurei que não escreveria frases dúbias, deixo o recado perdido nas entrelinhas. Não cito essas revelações - as deixo reservadas para silêncios em céu azul, onde o corpo conta mais que a fala e os gestos se completam, feito velhos e bons dançadores clássicos. Sin-cro-nia. E me calo. Acrescento um ponto final, mas sem antes dizer - como se você não soubesse - que gosto do gosto das estrelas na ponta da língua e do sorriso que escapa quando as sensações fogem do controle. Recomeço. E, apesar de, te revelo que isso é "detalhe", um bônus extra da tua companhia próxima.

parágrafo Digo que gosto de. E, depois do ponto, caberiam muitas frases, muitos segredos - meus - e algumas das muitas cumplicidades. Conto que gosto da companhia e ponto. Sem esperar demais, nem desesperar também. Apenas o sentir-se bem com a proximidade, com as palavras doces que vem no vento, com a risada que flui quase sempre e com os olhos que sorriem e revelam e se escondem. Gosto do mistério que tu carrega em cada folha não lida, em cada lágrima engolida e em cada silêncio que te foge do controle e confesso que não tento adivinhar aquilo que tu esconde, pois se assim você prefere, talvez porque assim seja o melhor para o momento. Já me contaste tanto de vida que, penso, sei aquilo que devo saber e saberei se assim você quiser. E descobri posso lidar com isso. Revelações e segredos. E eu.

parágrafo Assim, te levo comigo enquanto puder te carregar. Te levo pelos cantos, por me fazer bem te ter em letras, linhas, ladainhas. Levo nas músicas que ouvia e nas que passei a ouvir. Levo naquilo que te lembra, seja num por do sol que virou poema, numa taça de vinho que bebo, numa barra de chocolate que me oferecem ao acaso, na música que começa a tocar na rádio e naquela, doce e chata, que impregna na cabeça. Levo no riso pendido no canto dos lábios, no gosto da pipoca, no filme que ainda não vi, mas que você prometeu me mostrar. Levo nos desafios vencidos, no algodão-doce-nuvem, na sensação de equilíbrio, na vogal pouca. Te levo comigo, enquanto puder te levar. E enquanto você deixar que te leve.