quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Para aquela que nunca chegará a ler essas linhas...

Desculpa- me mais uma vez por vir falar de você. Mas eu não consigo evitar, é que sempre te tive como uma irmã, mais nova. Talvez seja exatamente por causa desse teu tamanho todo, ou talvez seja pelo excesso de bom humor e constante estado brincalhona. Queria só registrar, nessas linhas que você nunca terá conhecimento, que você tinha razão, menina, quando disse que iria chorar a semana inteirinha a tua falta. Não que tenha havido choro, mas houve um sentir falta. E embora eu ainda esteja acostumado com o fato de que tinha a tua presença dia sim, dia não, esse cair a ficha de que você não vem dia sim, outro também, me deixou uma tristezinha miúda, mas não despercebida.


Queria agradecer aos dias que meu humor melhorou consideravelmente depois de seis horas ouvindo o teu assobio incessante, depois de bater o pé, dizendo que teu ponto de vista estava sempre errado e sorrir com timidez ao admitir que, dessa vez — somente desta vez — tu tinhas razão. Agradeço pela companhia, por você dar trela as minhas manias e por zoar comigo, chamando-me de bronquinha, por viver reclamando de tudo e pelas historias trocadas, pela troca de informação inútil e pelas lembranças daquilo que eu deveria fazer e não fiz, sempre no melhor tom de amigo.



Queria te dizer que me diverti muito com os teus beliscões no meu braço, com a tua insistência na lavação de réguas e esquadros, com a medição de força a me arrastar pra rua enquanto eu queria me acomodar cá dentro. E te conto, agora, que nas vezes que fazia cara feia e falava que estava na hora de ir embora, eu queria mesmo era ficar mais. Era tudo fingimento meu, só pra levar a mais riso, a mais birra e mais palhaçada. Queria te dizer que achava graça dos cutucões, para convencer-me a mostrar as fotos dos caras que conheço e que teus comentários bizarros valiam por todo o dia.



Por fim, queria te dizer que sim, você tinha razão ao dizer que sentiria tua falta, menina. O silêncio tá ensurdecedor nesse barulho constante. Não chega o mercador gritado lá de fora, não chega o assobio imitando pássaros, nem o sino da igreja, nem teu urro de estresse, de corrida e de fome. A água mineral tá mais cheia, pois tua sede não vem também. É psicológico tudo, lembra? Te contei uma vez, cutucando com o indicador na cabeça, repetidas vezes, só pra te ver alucinado, emburrada e saindo batendo porta. Pirraça.



Queria te dizer, mas não digo. Não disse. E sequer terei a oportunidade de. Mas sim, sentirei tua falta.