quinta-feira, 16 de abril de 2009

pescar o passado, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale

Fui fazer uma limpeza e encontrei isso...

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Interrompido, caiu uma vírgula por aí, minha oração nunca será ouvida. Me perdi no meio dos sentidos. História escrita a lápis. Lápis-borracha para tudo ser mais prático. Escrita de qualquer jeito, torta, em linhas invisíveis. Com um início de perder o fôlego, mas com um eterno três pontinhos num final que nem existe. Os três pontinhos são o que me matam, ponto final seria a dureza clara e o fim da história. Três pontinhos são o que me matam. Uma história pra adultos, escrita por crianças. Você sem saber viver tantas vidas por aí. E eu sem conseguir viver porque virei seu hospedeiro. Quis sugar sua vida, e me perdi. Incapaz de me sentir por medo de ser inteiro. Saio sentindo e sendo os outros. Quis ser você inteira, morar aí dentro, bombear e mandar nas suas veias. Mas você é tão livre, tão acima do chão. Tão acima de minha cabeça. Da minha cabeça que está aos seus pés. Mas tudo isso pode se quebrar a qualquer momento. A reconstrução eterna dos meus sonhos que já nascem fragmentados para que eu possa engolir tudo aos poucos. Mas de nada adianta. Estou eu aqui de novo, mas mais uma vez tão único e surpreso. Engasgado até onde se pode sentir falta de ar. Engasgado de você ir embora, engasgado de você voltar. Engasgado de você sempre sorrir. De que vale eu deixar de existir se você não me percebe? Sigo inchado, sigo cheio de coisas para cuspir, sigo pontuado por esses batimentos cardíacos que descem e sobem quando te vejo. Poesia sem rima porque não somos bregas. E a vida sem sentidos e sem encaixe é a loucura que une nossas doenças. Estrofes com métrica, porque sabemos exatamente o que queremos, apenas não rimamos para que não exista cumplicidade. Uma história começada como a necessidade obscena e idiota de coçar o saco. E terminada pela saciedade obscena e idiota de o saco já ter sido coçado. Tudo tão simples. E eu termino me sentindo uma merda mesmo. Ditado de três palavras para você: sentimento, assim, difícil. Narração de sujeito oculto para mim: meus sentimentos escondidos até o fim. Uma redação com margem, tamanho e estilo impostos por você. Uma historia sem limites para mim. E você continua indo embora, e eu continuo ficando, vendo você levar partes de mim que antes eu nem sentia falta. E você continua escrevendo sua história pulando linhas, errando palavras, esquecendo os títulos. E eu continuo escrevendo seu nome com letras cheias, para tentar preencher você de alguma maneira. Pra tentar deixar tangível a sua existência.